[RESENHA] O Ceifador - Neal Shusterman

27 de jul. de 2017
O Ceifador - Neal Shusterman
ISBN-10: 8555340357
Ano: 2017
Páginas: 448
Editora: Seguinte
Classificação: 
Página do livro no Skoob

Primeiro mandamento: matarás. A humanidade venceu todas as barreiras: fome, doenças, guerras, miséria... Até mesmo a morte. Agora os ceifadores são os únicos que podem pôr fim a uma vida, impedindo que o crescimento populacional vá além do limite e a Terra deixe de comportar a população por toda a eternidade. Citra e Rowan são adolescentes escolhidos como aprendizes de ceifador - papel que nenhum dos dois quer desempenhar. Para receberem o anel e o manto da Ceifa, os adolescentes precisam dominar a arte da coleta, ou seja, precisam aprender a matar. Porém, se falharem em sua missão ou se a cumplicidade no treinamento se tornar algo mais, podem colocar a própria vida em risco.
Resenha por Carol Teles:
Ler um livro do Neal é como se jogar em um mundo de problemáticas de coisas que até então você não tinha parado para analisar. Além de serem livros que envolvem ações, são livros que envolvem ideias, e das boas. Foi um choque quando li Fragmentados, e não foi psicologicamente diferente ao ler O Ceifador.

Essa é o tipo de história que não se explica com facilidade, e ainda que consiga, jamais vai fazer o leitor dessa resenha entender o que significa tudo que o autor criou aqui. Mas vamos lá, eu juro que vou tentar.

Imagina uma sociedade onde existe cura para todas as doenças. Que reviver é tão comum quanto nascer, caso a morte seja algo irrefutável, como a velhice. Não existe mais morte. Quando você fica velho, basta ir a uns dos centros de “reabilitação” e pedir para ter vinte anos novamente. Pensando com esse raciocínio, o que vocês acham que aconteceria com a Terra? Isso ai! Em pouco tempo teria tanta gente que o planeta não conseguiria comportar, e começaríamos a entrar em colapso por falta de recursos.

Ok, entendido essa primeira parte, vamos imaginar que essa sociedade tem uma espécie de programa super inteligente de computador que é quem comanda todo esse jogo de nascer, reviver... Como se ele fosse o governo atual e tomasse as decisões mais lógicas. Portanto, esse programa, pensando no super povoamento do mundo, criou os Ceifadores, que é tipo um parlamento de pessoas com o poder de tirar a vida de outra.

Entendam que se um amigo bêbado der um tiro no outro, movido por um ato de raiva, é só o baleado ser levado para um centro desses que ele volta a vida. O mesmo com um suicida. Não há nenhuma forma de morrer que não seja através dos Ceifadores. Só eles podem tirar uma vida. Só eles detêm o direito dela.

E então temos os nossos protagonistas, dois adolescentes que foram recrutados por um Ceifador, no intuito de receber treinamento para também serem capazes de ceifar. O grande problema é que apenas um deles pode ficar, e isso gera uma espécie de repulsa e disputa um com o outro.

Olha, preciso dizer que o casal de protagonistas serve apenas para guiar o leitor nas ideias da Ceifa e desse universo que Neal criou. Apesar de não ser uma ideia nova, uma sociedade perfeita e sem mortes, é uma ideia interessante que ele use a morte como protagonista, e não como vilão. Quer dizer... um pouco vilão, sim, mas um vilão necessário. Afinal de contas, tem que existir morte para que o ciclo da vida sempre se renove.

Os Ceifadores trabalham com base em estatísticas. Por exemplo, se na sociedade antiga (o que seria a nossa sociedade atual), 3% de mulheres numa mesma área morriam de assassinato durante um ano, eles tinham que ceifar 3% de mulheres com os biótipos que eram mortas na era antiga. É todo um estudo para tirar uma vida. Ser Ceifador não era tão fácil ou remotamente leve, mas talvez fosse o maior patamar social que um ser humano fosse capaz de alcançar. Você ganha imunidade da morte por ser um Ceifador, mas tem que tirar vidas, o que deve dar pesadelos constantes. Uma coisa boa entrelaçada em uma ruim.

É um livro depressivo. Que te coloca para pensar em morte o tempo todo ao ponto de ficar paranoico. E infelizmente o ser humano não está preparado para lidar com a morte, ainda que seja uma coisa tão absurdamente comum.

Ler O Ceifador me deixou péssima. Passei semanas para ler o livro porque cada página parecia tirar um fôlego de vida meu. Ficava mal de verdade, porque mesmo depois de ter perdido tanta gente ao redor, eu não estou preparada para lidar com a morte. Sendo ela de mentira ou de verdade, te coloca para pensar do mesmo modo.

Existem esses personagens, e, como disse, eles existem para que o leitor entenda essa estrutura de sociedade. Cintra e Rowan são só um meio que te leva a conhecer tudo ao redor da Ceifa. E também para nos fazer compreender que existe politicagem até numa sociedade reestruturada e perfeita, como essa. Na verdade é bem interessante ver como as pessoas se comportam quando lhes dão poder. Como são tão selvagens que mesmo em um mundo onde tudo é aparentemente perfeito, damos um jeito de estragar alguma coisa.

Eu poderia passar o dia aqui falando sobre esse livro e ainda assim não seria suficiente. Talvez eu não tenha mergulhado nele como deveria, mas não foi culpa dele. O livro é incrível em todos os pontos abordados. Só que não estou preparada para suportar pensar na morte como trocar de roupa ou comer. Não ainda, e talvez nunca esteja. Mas deixo a ideia para vocês. Só esteja preparado para ficar eventualmente na bad, ou pensar tanto sobre esse assunto que vai sentir a cabeça furar.


Quase formada em Letras; quase formada em Biblioteconomia, sou altamente inquieta e tenho problemas em terminar coisas que comecei. Durmo pouco e com milhões de travesseiros. Sou chocólatra e passo parte do meu dia em uma Interprise ou Millenium Falcon porque meu filho vive no espaço. Perco-me na vida. 

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