[RESENHA] Doutor Fausto - Thomas Mann

3 de mai. de 2016
Doutor Fausto - Thomas Mann
ISBN-10: 8535926488
Ano: 2015
Páginas: 624
Editora: Companhia das Letras
Classificação: 
Página do livro no Skoob
Último grande romance de Thomas Mann, Doutor Fausto foi publicado em 1947. O escritor fez uma releitura moderna da lenda de Fausto, na qual a Alemanha trava um pacto com o demônio — uma brilhante alegoria à ascensão do Terceiro Reich e à renúncia do país a sua própria humanidade. O protagonista é o compositor Adrian Leverkühn, um gênio isolado da cultura alemã, que cria uma música radicalmente nova e balança as estruturas da cena artística da época. Em troca de 24 anos de verve musical sem paralelo, ele entrega sua alma e a capacidade de amar as pessoas. Mann faz uma meditação profunda sobre a identidade alemã e as terríveis responsabilidades de um artista verdadeiro.

Resenha por Carol Teles:
Comigo as coisas funcionam da seguinte forma: Quanto mais difícil for de ler um livro, mais complicado é de se falar sobre ele. Isso foi o que senti ao terminar Doutor Fausto. Uma nostalgia poderosa que me impossibilitou de escrever qualquer coisa sobre ele por dias.

Thomas Mann era um dos autores que protagonizava minha enorme lista de grandes nomes da literatura mundial que ainda não havia conhecido. Claro que o motivo era minha total negligência – e medo. Afinal, basta olhar para a maioria de seus livros e tremer na base pelo tamanho da obra como objeto, e pela dimensão de significado. Sim, foi difícil ler Doutor Fausto. Mas como sempre costumo dizer lá no site, chega uma hora na vida da maioria dos leitores que ele sente a necessidade de sair da zona de conforto e se aventurar pelo difícil. A mente pede mais, e então você dá.

A sinopse de Doutor Fausto diz o trivial sobre a história, que o livro é sobre a vida de um compositor chamado Adrian e o pacto que ele supostamente faz com o demônio para que sua obra seja grandiosa, em troca de sua alma. Uma ideia um tanto comum aos nossos ouvidos, graças ao mito alemão de Fausto, e as tantas referências artísticas que surgiram ao longo do tempo. E, como a maioria dos leitores entendem ao terminar de ler, a obra nada mais é do que uma alegoria ao que acontecia na Alemanha naquela época: Segunda Guerra Mundial. Tanto que a história de Adrian “termina” exatamente quando Hitler sobe ao poder. O demônio cobrando pelo pacto.

Sabe-se que Thomas Mann era totalmente contrário a ideia nazista. E sabe-se também que ele era daqueles que brigavam pelo o que acreditava. Se não adiantava muita coisa na prática, ao menos deixou para a história sua opinião sobre o assunto. O autor normalmente é bem histórico ao escrever, e narra notoriamente fatos importantes que aconteciam na Alemanha durante o tempo de suas narrativas.

Doutor Fausto é narrado por Serenus, um amigo do protagonista. Acho importante esse distanciamento de ponto de vista para entendermos a dimensão do que Adrian cria, e de como ele consegue atingir vários graus de perfeição artística. Sem contar a repercussão durante seu declínio físico, quando o pacto começa a ser “cobrado”.

O livro é grande, como sua ideia também é. Thomas Mann queria que o leitor ligasse a ideia da venda da alma de Adrian como a venda da alma dos alemães ao partido nazista. Isso era visível a todo momento, e o diálogo que Adrian trava com o demônio deixa esse ar duplo de um homem em busca da perfeição estética, e de uma nação em busca de uma perfeição moral. O diálogo é uma das cenas mais incríveis que li até hoje.  Não foi fácil ler Doutor Fausto. A escrita do autor é altamente poética e filosófica. Densa em todos os sentidos. A primeira parte do livro é praticamente um levantamento sobre música clássica, tanto quanto ao mais óbvio quanto no mais técnico. Nessas horas eu ficava meio perdida por não entender muito do assunto. E não foi só nessas horas. Mas a obra ao todo era tão incrível, que esses pormenores passavam com dificuldade, mas passavam com vontade.

Consegui. Li um grande nome da literatura alemã e um puta livro bom! Prova de que boa literatura e história andam lado a lado a todo o momento.


Quase formada em Letras; quase formada em Biblioteconomia, sou altamente inquieta e tenho problemas em terminar coisas que comecei. Durmo pouco e com milhões de travesseiros. Sou chocólatra e passo parte do meu dia em uma Interprise ou Millenium Falcon porque meu filho vive no espaço. Perco-me na vida. 

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