[Resenha] Só por Hoje e para Sempre - Renato Russo

4 de fev. de 2016
Só por Hoje e para Sempre - Renato Russo
ISBN-10: 8535926097
Ano: 2015
Páginas: 168
Editora: Companhia das Letras
Classificação: 
Página do livro no Skoob
Entre abril e maio de 1993, Renato Russo passou vinte e nove dias internado numa clínica de reabilitação para dependentes químicos no Rio de Janeiro. Durante esse período, o músico seguiu com total dedicação os Doze Passos, programa criado pelos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, que incluía um diário e outros exercícios de escrita. É este material inédito que vem à tona depois de mais de vinte anos em Só por hoje e para sempre, graças ao desejo de Renato de ter sua obra publicada postumamente. Entremeando as memórias do líder da Legião Urbana com passagens de autoanálise e um olhar esperançoso para o futuro, este relato oferece a seus fãs, além de valioso documento histórico, um contato íntimo com o artista e um exemplo decisivo de superação.

Resenha:
Quando a gente canta Legião Urbana parece que a alma fica mais leve. Pelo menos é o que acontece comigo. Por um tempo fui daqueles que só conheciam os maiores sucessos da banda, até que resolvi ouvir a discografia completa e pude ter a certeza da genialidade das composições de Renato Russo. Do Aborto Elétrico, passando pelo trovador solitário, é tudo muito visceral. E olha, odeio usar essa palavra, mas se tem alguém que se encaixa é ele. Quando resolvi encarar o diário que Renato escreveu durante o período que esteve internado numa clínica de reabilitação jamais imaginei que fosse ser tão afetado. É de uma melancolia agressiva.

São 168 páginas que tiveram o efeito de 400 em mim. Comecei essa leitura em dezembro do ano passado, durante um período não muito feliz da minha vida e parece que todas as tristezas do músico se projetaram em mim. Ele chama atenção para tantas coisas que sentimos no dia a dia. O grande problema de Renato Russo é que ele entendia muito bem quem era, mas não sabia lidar com suas emoções. Veja bem que ironia. As emoções que ele tanto cantava.

Renato se isolava de tudo e de todos para se drogar em seu quarto. Para sua autopiedade ele encontrava consolo no álcool. Renato tinha a sensação de que muitas pessoas só estavam ali pelo dinheiro que possuía. E acredite, não faltarão exemplos de pessoas que convenientemente estavam por perto para tirar proveito de algo que sua condição de famoso proporcionava. Renato era muito imediatista. Se não conseguisse o que queria quando queria tudo passava a não ter mais valor. Ele surtava. Dono de um temperamento explosivo, apesar de tímido, o cantor acabava por muitas vezes deixando suas opiniões de lado para agradar. Suas desilusões amorosas eram tratadas com noites em claro escrevendo cartas de amor e se afundando em heroína.

O Diário do Recomeço é um misto de passado e presente. Ao mesmo tempo em que acompanhamos a rotina do músico em Vila Serena, clínica onde se internou por vontade própria, também mergulhamos em lembranças de quando ele ainda não estava ali. É que boa parte das atividades propostas pelos médicos e terapeutas tinham a ver com listar situações em que ele se sentiu ou agiu de determinada forma e analisar o contexto. Confesso que é de uma monotonia gritante os escritos dele sobre o que fez ou deixou de fazer na clínica. Sem falar que ele fala de todo mundo através de siglas, o que já dificulta para quem tem memória curta.

As viagens ao passado nos mostram segredos sobre os bastidores da Legião Urbana, da correria dos shows pelo país, dos conflitos entre os integrantes e todos os problemas envolvidos no lançamento de discos que são épicos para o público. Também nos revelam contos inusitados envolvendo os artistas da época, alguns no auge até hoje. Um caso em especial me chamou muita atenção. Convidado para um jantar na casa de Regina Casé, Renato foi explicitamente feito de bobo por Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Luís Fernando Guimarães. Uma noite que deveria ser de felizes confidências, acabou se tornando mais um dia em que o astro se afundou em seus vícios para superar tudo. O veneno corre solto nessas partes.

Só por Hoje e para Sempre é a história de vida de alguém que se perdeu no caminho. Um caminho que deveria ter sido trilhado se amando mais. É sobre uma celebridade intocável que enfrentou problemas como todos nós. Que esqueceu de sua fé e a resgatou para vencer a depressão de uma vida sem luz. As lições que ficam são as de sempre: trabalhe duro, seja fiel ao que sente, não perca o controle, peça ajuda, mas em primeiro lugar se ajude. Ame e ame verdadeiramente, porque não há livro nesse mundo que não trate o amor como uma das coisas mais fundamentais da vida. Ele muda tudo.


Renato Russo morreu em 1996 devido a complicações causadas pelo HIV. Ele tinha apenas 36 anos.

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